07/01/2012

Eli





















ilustração: Mecchi.
Pintura eletrônica: Renato de Oliveira, em "Uma Aventura na Amazônia - Raycha", Livraria Cultura

Ontem me visitou a senhora Eli Crudo. Uma doçura de mulher. Foi para ela que liguei quando estava para ter alta hospitalar e me sentia morta para enfrentar o mundo aqui fora. Estava esquálida, anêmica, torta e dura feito uma pedra do estômago para baixo.
Mamãe estava para chegar e eu não desejava que me visse daquele jeito. Chorava como uma criança e pedia para ir embora desse mundo. As duas mães (Eli sempre diz que é minha segunda mãe e tem muito amor por mim) chegaram juntas e trouxeram-me de volta para casa.
Hoje continuo dura e torta mas estou menos debilitada para enfrentar a selva de pedra.
Na cultura indígena eu já teria sido entregue ao Tupã num bonito ritual de passagem. Os índios sacrificam sem dor crianças e adultos impossibilitados de viver na selva verde e enfrentar seus perigos.
Os brancos fingem que nada veem. Fingem que não conhecem as leis da cultura branca e a montanha de dinheiro público disponível aos programas de entidades governamentais e não governamentais voltadas a garantir ao menos a qualidade de vida para quem nem consegue se arrastar. Quase todos fingem cuidar da inserção social dessas pessoas na selva de pedra, sem dor. Quase todos...
Por meio do Instituto Mara Gabrille e do Programa Cadê Você, mantido pela ong da primeira deputada federal tetraplégica, tenho conseguido o necessário para manter minha qualidade de vida: cadeira, almofada e colchão de alta tecnologia para manter o mínimo de qualidade de vida e dignidade. E o principal: um exemplo que poderei seguir se tiver o apoio de irmãos de fé e de princípios para lutar pela minha vida, pela volta ao trabalho e ajudar quem espera por um pouco do que já consegui até aqui com a minha mente e minhas mãos.

2 comentários:

  1. Enquanto sofres fisicamente,depura-te espiritualmente e a tua luz brilha cada vez mais.Deus continue a te amparar.beijos de paz.

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  2. Dia destes assisti o biólogo Richard (Aventura Selvagem-SBT) num ritual indígena numa aldeia maoé na Amazônia (falo sobre eles no meu terceiro livro: Uma Aventura na Amazônia - Raycha). Uma luva de palha recheada de formigas é colocada nas mãos de homens da aldeia desde a mais tenra idade. Richard participou do ritual com um indiozinho de uns 11 anos de idade. No final, Richard chorava de dor e foi parar num hospital para tomar soro e analgésico. Antes, perguntou ao menino-índio:
    - Você não sente dor?
    Ele respondeu:
    - Sinto, mas não choro. Um homem não chora. Aprendi a controlar a dor física com a meditação.
    - Nem por amor? - perguntou Richard.
    - Ah! Por amor um homem deve chorar sim - respondeu o menino.
    É por isso que amo tanto a cultura indígena.

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Agradeço pela sua presença. Abraço meu, Gisele