30/08/2006

FEIRA [Ribeirão Preto]

Ribeirão Preto, 2004

CULTURA É ACOLHER BEM

Felizes os autores que escrevem para crianças.
Tê-las por perto é sentir a presença de Deus.
Senti a presença dele neste 19 de junho, na cidade de Ribeirão Preto, onde participei de um solitário Salão de Autógrafos numa feira do livro. Seus organizadores esqueceram o principal: saber receber é uma questão cultural e qualquer dona-de-casa mediana sabe valorizar esse quesito.

Colocar vasinho de flor na mesa e no buraco vazio reservado na estante para os livros dos autores que não vieram foi fácil. Difícil mesmo foi fazer o essencial: receber bem e com reciprocidade a única escritora presente na sessão de autógrafos, onde tantos outros confirmaram presença e se ausentaram.

Teria me sentido bem recebida e acolhida se um único exemplar do meu livro tivesse sido comprado para o acervo de livros infantis de uma única biblioteca da cidade, que se orgulha de possuir dezenas delas e repudia quando comparada com a norte-americana Califórnia.

Qualquer administrador mediano sabe valorizar o fundamento reciprocidade muito bem. Até porque, quando a cidade recebe mal os seus visitantes perde divisas. Até a água que bebi foi paga por mim. Talvez se eu bebesse uísque e me apresentasse ao público com a mesma roupa que durmo o papo seria outro. Conheço pessoas que dão palestras nesses trajes com todas as despesas pagas, até a água que o passarinho não bebe.

Viajei 330 quilômetros, com despesas pagas por mim, para participar de uma sessão de autógrafos para a qual confirmei presença, num evento que se pretende cultural, bancado por um monte de patrocinadores. Amanheci na rodoviária para ser pontual e não atrasar a programação ou prejudicar o horário reservado para outros autores. Levo a sério o meu trabalho e penso que do lado de lá o trabalho também é levado a sério.

Além do livro Um par de asas para Toby, que seria autografado, levei na bagagem exemplares do livro transcrito em braile para doação. Não apareceu pessoa alguma ligada à Educação ou à Cultura da cidade de Ribeirão Preto para conhecer-me e receber de mim um livro autografado. Sequer conheci os escritores da cidade e suas obras. E gostaria de tê-los conhecido, em especial os independentes, como eu.

Já passei por esse constrangimento outras vezes. Mas Deus sempre envia um anjo para me auxiliar nos momentos difíceis. Observei que em todos os lugares onde me apresento existe sempre uma criança que justifica a minha presença naquele lugar.

Em Ribeirão Preto apareceu o anjo Eduardo Gomes de Oliveira, de 9 anos, a única pessoa presente na Feira do Livro que entendeu a razão e o valor do meu esforço. Ele fez de tudo para que eu me sentisse recompensada e saísse de lá com uma boa imagem da cidade. Timidamente convidava as crianças para irem me conhecer.

Quando as crianças começaram a chegar para ouvir-me contar a historinha do cão Toby um barulho ensurdecedor tomou conta do lugar. Eram testes de som para um show que aconteceria no final da tarde, na frente do estande dos autógrafos.

O curto espaço de uma hora que me foi oferecido, naquela manhã, estava esgotado. Mal consegui falar com as crianças da cidade. Mas guardo delas a melhor lembrança. Crescerão vencedoras e ocuparão com dignidade as funções e os cargos públicos.

Quando esse dia chegar, estou certa que os escritores, os artistas e os cidadãos livres serão tratados com o mesmo respeito como fui tratada por elas, nos poucos minutos que nos foram concedidos ficar juntas.

Queridos alunos,

Eduardo Gomes de Oliveira,
William R. Rigoli,
Murilo Menezes Sant'Ana,
Ricardo V. P Pereira e
Guilherme C. N. Z. Ruiz:

Vocês são os responsáveis pelas boas recordações da minha primeira visita como escritora aí em Ribeirão Preto, no dia do aniversário da cidade e a cinco dias do meu aniversário.

Muito obrigada pelo interesse demonstrado pelo meu trabalho e pela visita feita para mim naquele solitário estande do Salão de Autógrafos. Infelizmente, o barulho alto proveniente dos testes de som não favoreceu a nossa conversa mas espero ter podido transmitir a vocês o essencial. Para mim, o essencial se resume na importância da amizade e na valorização do esforço pessoal para transpor as pedras do caminho.

Quero fazer um agradecimento especial ao Eduardo, uma criança com apenas 9 anos, a única pessoa da cidade que entendeu o valor do esforço feito por mim para estar presente neste dia 19 de junho, aí em Ribeirão Preto, distante 330 quilômetros da minha cidade. Crianças como você Eduardo, são anjos enviados por Deus para nos dar força e coragem nos momentos de desânimo.

Muito obrigada pelo carinho e pela atenção. Sei que você crescerá e vencerá e, quando adulto for, tratará os escritores e os artistas livres da mesma forma atenciosa e generosa como eu fui tratada por você Eduardo, e pelos seus amiguinhos.

Gostaria muito de ter autografado o meu livro para cada um de vocês. Mas ele precisa ser vendido. No entanto, o livro poderá ser lido na íntegra por vocês no site REDE SACI, que pertence à Universidade de São Paulo. Não será possível ver os desenhos feitos pelo Mecchi para ilustrar a história. Mesmo assim, espero que leiam e que depois escrevam sobre o que acharam desta primeira aventura da coleção.

Endereço de busca do Toby na Internet:
http://www.saci.org.br

15/08/2006

EVENTO

Palestra
Literatura Infantil e Inclusão: Quem é Toby?



Apresentação do projeto literário inclusivo Coleção Toby aos conselheiros municipais de educação de cinco cidades do estado de São Paulo, durante curso de formação coordenado pela Faculdade de Educação da USP.
Data/Horário: 18/8 às 11 h.
Local: EDA/FEUSP