Gisele Pecchio Dias
Mudaria o casamento ou mudei eu?
- Responda rápido, sem pensar: por que você quer casar com ela?
- Eu quero ser feliz.
- Errado. É por isso que ela lhe deu o fora.
A pergunta, feita em voz alta e grave, partiu de um rapaz que tentava consolar um amigo que havia acabado de terminar o noivado.
A tarde fria e a garoa me empurraram para dentro daquele shopping. Entre uma sopradinha na borda da xícara e um gole de café fiquei ali, atenta, ouvindo a conversa.
Você deve estar me achando uma autêntica mexeriqueira, mas juro que aconteceu por acaso e não pude evitar ouvi-los, até porque falavam alto, como quase todos os rapazes.
Embora muito jovem, o que aconselhava o outro era casado há bastante tempo e fugia do perfil normal de um homem na faixa dos vinte e cinco anos.
- Seu enfoque sobre a felicidade no casamento está equivocado. Por isso, ela não quis você. A mulher é o ser mais inteligente que habita esse planeta. É rápida feito uma águia e quando você menos espera ela já concluiu o final da história que você está pensando começar...
Esse elogio sobre a mulher me deixou ainda mais interessada na conversa. À medida que o rapaz falava, o outro silenciava e balançava a cabeça, em sinal de concordância.
- Tolo aquele que se julga capaz de enrolar uma mulher. Com mulher não tem essa conversa de crer para ver. Se ela não ver não crê e não tem papo furado.
- Mas o que há de mau em querer a própria felicidade?
- Sabe por que eu casei com a minha mulher? Para fazê-la feliz. Quando um homem escolhe uma mulher para casar ele tem que desejar, em primeiro lugar, fazê-la feliz. Esse é o enfoque correto: desejar a felicidade plena de quem amamos. Por isso sou o cara mais feliz do mundo.
Bem, a essa altura eu já estava olhando para os lados buscando cumplicidade com outra pessoa que possivelmente pudesse estar ouvindo os rapazes, sentados à minha frente. Para o meu conforto, percebi que não mexericava sozinha, uma mulher na mesa ao lado também estava muito interessada e um casal também ouvia. Por um instante quatro pares de olhos cúmplices se cruzaram e tive a sensação de que a qualquer momento um de nós iria puxar aplausos para o rapaz. O que não ocorreu. Mas trocamos sorrisos.
Eles, indiferentes, prosseguiam a conversa ...
- Mas se eu não desejar a minha própria felicidade como vou fazê-la feliz?
- E quem falou que a sua felicidade vem na frente? A gente tem que fazer a outra pessoa feliz.
Sou casado com a melhor mulher do mundo e só tenho olhos para ela. E foi sempre assim, desde que a pedi em namoro ao pai dela. Mesmo que isso não fosse tão importante para mim, sabia que a faria feliz ser pedida em namoro e me ouvir falar sobre minhas intenções de casar ao pai dela. Namorei, noivei e casei e é assim que tem que ser. Quem gosta de mulher de verdade tem que respeitar essa regra. É desse jeito que as mulheres de verdade gostam de ser tratadas.
O rapaz nem precisou dizer, mas é fácil concluir que a mulher dele deve se sentir casada com o melhor homem do mundo por fazê-la feliz, em primeiro lugar.
25/05/2006
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Leitor, claro que a primeira pessoa do mundo para você é você mesmo. Se você não se fizer feliz não irá fazer alguém feliz. Então, a nossa primeira missão é sermos capazes de nos amar a nós mesmos, incondicionalmente. O rapaz que conheci no shopping é um desses raros espíritos que muito cedo descobriu os fundamentos da felicidade. Chegaremos lá!
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