27/05/2006
Blog do Toby
Aqui você fica por dentro da missão deste simpático cãozinho genérico. No momento ele está correndo atrás dos pássaros da esquadrilha da fumaça, de quem esteve separado durante o tempo em que se aventurou na Amazônia Brasileira. A história desta aventura você conferirá em RAYCHA, o terceiro livro da série. Aguarde...
25/05/2006
ARTIGO [casamento]
Gisele Pecchio Dias
Mudaria o casamento ou mudei eu?
- Responda rápido, sem pensar: por que você quer casar com ela?
- Eu quero ser feliz.
- Errado. É por isso que ela lhe deu o fora.
A pergunta, feita em voz alta e grave, partiu de um rapaz que tentava consolar um amigo que havia acabado de terminar o noivado.
A tarde fria e a garoa me empurraram para dentro daquele shopping. Entre uma sopradinha na borda da xícara e um gole de café fiquei ali, atenta, ouvindo a conversa.
Você deve estar me achando uma autêntica mexeriqueira, mas juro que aconteceu por acaso e não pude evitar ouvi-los, até porque falavam alto, como quase todos os rapazes.
Embora muito jovem, o que aconselhava o outro era casado há bastante tempo e fugia do perfil normal de um homem na faixa dos vinte e cinco anos.
- Seu enfoque sobre a felicidade no casamento está equivocado. Por isso, ela não quis você. A mulher é o ser mais inteligente que habita esse planeta. É rápida feito uma águia e quando você menos espera ela já concluiu o final da história que você está pensando começar...
Esse elogio sobre a mulher me deixou ainda mais interessada na conversa. À medida que o rapaz falava, o outro silenciava e balançava a cabeça, em sinal de concordância.
- Tolo aquele que se julga capaz de enrolar uma mulher. Com mulher não tem essa conversa de crer para ver. Se ela não ver não crê e não tem papo furado.
- Mas o que há de mau em querer a própria felicidade?
- Sabe por que eu casei com a minha mulher? Para fazê-la feliz. Quando um homem escolhe uma mulher para casar ele tem que desejar, em primeiro lugar, fazê-la feliz. Esse é o enfoque correto: desejar a felicidade plena de quem amamos. Por isso sou o cara mais feliz do mundo.
Bem, a essa altura eu já estava olhando para os lados buscando cumplicidade com outra pessoa que possivelmente pudesse estar ouvindo os rapazes, sentados à minha frente. Para o meu conforto, percebi que não mexericava sozinha, uma mulher na mesa ao lado também estava muito interessada e um casal também ouvia. Por um instante quatro pares de olhos cúmplices se cruzaram e tive a sensação de que a qualquer momento um de nós iria puxar aplausos para o rapaz. O que não ocorreu. Mas trocamos sorrisos.
Eles, indiferentes, prosseguiam a conversa ...
- Mas se eu não desejar a minha própria felicidade como vou fazê-la feliz?
- E quem falou que a sua felicidade vem na frente? A gente tem que fazer a outra pessoa feliz.
Sou casado com a melhor mulher do mundo e só tenho olhos para ela. E foi sempre assim, desde que a pedi em namoro ao pai dela. Mesmo que isso não fosse tão importante para mim, sabia que a faria feliz ser pedida em namoro e me ouvir falar sobre minhas intenções de casar ao pai dela. Namorei, noivei e casei e é assim que tem que ser. Quem gosta de mulher de verdade tem que respeitar essa regra. É desse jeito que as mulheres de verdade gostam de ser tratadas.
O rapaz nem precisou dizer, mas é fácil concluir que a mulher dele deve se sentir casada com o melhor homem do mundo por fazê-la feliz, em primeiro lugar.
Mudaria o casamento ou mudei eu?
- Responda rápido, sem pensar: por que você quer casar com ela?
- Eu quero ser feliz.
- Errado. É por isso que ela lhe deu o fora.
A pergunta, feita em voz alta e grave, partiu de um rapaz que tentava consolar um amigo que havia acabado de terminar o noivado.
A tarde fria e a garoa me empurraram para dentro daquele shopping. Entre uma sopradinha na borda da xícara e um gole de café fiquei ali, atenta, ouvindo a conversa.
Você deve estar me achando uma autêntica mexeriqueira, mas juro que aconteceu por acaso e não pude evitar ouvi-los, até porque falavam alto, como quase todos os rapazes.
Embora muito jovem, o que aconselhava o outro era casado há bastante tempo e fugia do perfil normal de um homem na faixa dos vinte e cinco anos.
- Seu enfoque sobre a felicidade no casamento está equivocado. Por isso, ela não quis você. A mulher é o ser mais inteligente que habita esse planeta. É rápida feito uma águia e quando você menos espera ela já concluiu o final da história que você está pensando começar...
Esse elogio sobre a mulher me deixou ainda mais interessada na conversa. À medida que o rapaz falava, o outro silenciava e balançava a cabeça, em sinal de concordância.
- Tolo aquele que se julga capaz de enrolar uma mulher. Com mulher não tem essa conversa de crer para ver. Se ela não ver não crê e não tem papo furado.
- Mas o que há de mau em querer a própria felicidade?
- Sabe por que eu casei com a minha mulher? Para fazê-la feliz. Quando um homem escolhe uma mulher para casar ele tem que desejar, em primeiro lugar, fazê-la feliz. Esse é o enfoque correto: desejar a felicidade plena de quem amamos. Por isso sou o cara mais feliz do mundo.
Bem, a essa altura eu já estava olhando para os lados buscando cumplicidade com outra pessoa que possivelmente pudesse estar ouvindo os rapazes, sentados à minha frente. Para o meu conforto, percebi que não mexericava sozinha, uma mulher na mesa ao lado também estava muito interessada e um casal também ouvia. Por um instante quatro pares de olhos cúmplices se cruzaram e tive a sensação de que a qualquer momento um de nós iria puxar aplausos para o rapaz. O que não ocorreu. Mas trocamos sorrisos.
Eles, indiferentes, prosseguiam a conversa ...
- Mas se eu não desejar a minha própria felicidade como vou fazê-la feliz?
- E quem falou que a sua felicidade vem na frente? A gente tem que fazer a outra pessoa feliz.
Sou casado com a melhor mulher do mundo e só tenho olhos para ela. E foi sempre assim, desde que a pedi em namoro ao pai dela. Mesmo que isso não fosse tão importante para mim, sabia que a faria feliz ser pedida em namoro e me ouvir falar sobre minhas intenções de casar ao pai dela. Namorei, noivei e casei e é assim que tem que ser. Quem gosta de mulher de verdade tem que respeitar essa regra. É desse jeito que as mulheres de verdade gostam de ser tratadas.
O rapaz nem precisou dizer, mas é fácil concluir que a mulher dele deve se sentir casada com o melhor homem do mundo por fazê-la feliz, em primeiro lugar.
Crônica da Gisele Pecchio: A Mala e o Caráter
O melhor do Brasil é o brasileiro. O pior do Brasil é o mau uso do poder. Se o equilíbrio está no meio, engana-se quem abusa do extremo. Engana-se quem usa a propaganda e publicidade para impor uma imagem que não se confirma nos atos. A melhor propaganda é a palavra confirmada nos atos. Palavra não confirmada nos atos produz reação no sentido contrário e justo.
O melhor do Brasil é o brasileiro cujo ato confirma a palavra. Enquanto uma minoria faz mau uso do poder, por inépcia, má fé ou falta de compromisso com a construção do caráter, a maioria da população esbanja exemplos de boa conduta.
Enquanto a minoria escória invade a midia emporcalhando a programação com a sua falta de ética e desinteresse pelo público, faltam espaços na programação para exibir o bem e a verdade. E estes se encontram nas ruas, nas casas, nos escritórios, no privado e também no público. A maioria é honesta.
Dia destes presenciei nas ruas alguns bons exemplos de cidadãos cuja mente é o céu, o lugar mais alto da existência, o lugar que abriga a consciência. Como é bonito enxergar o bem que ainda se pode fazer.
Enquanto um falso publicitário transformou o Congresso Nacional numa delegacia de polícia, ocupando todo o espaço da midia com a palavra abjeta, dois guardas municipais da cidade de Osasco seguiam como anjos uma anciã que aparentava estar perdida na tarde fria e chuvosa, sem agasalho, sem proteção, sem companhia. Discretos, protegeram a mulher e a reconduziram ao lar. Um ato da mais nobre grandeza que dispensa a palavra.
Enquanto falsos políticos e falsos seguidores de Cristo enchiam malas e a cueca com dinheiro — e algum falso publicitário poderia pensar num modelo de mala e de cueca carbonadas, resistentes a provas radiográficas —, um jovem de 26 anos, de nome Roberto, deixou de ganhar dinheiro no pregão para auxiliar o vizinho Manoel, de 76 anos, a resolver um problema numa repartição pública.
Se cada um de nós pudesse dedicar um ato do dia em favor do próximo, nossa vida seria melhor. Destino, acaso e coincidências não há, o que existe é a relação de causa e efeito em tudo o que praticamos. Se a midia reproduzisse o bom exemplo, a boa palavra confirmada nos atos, tanto melhor seria a vida de todos nós.
Porém, enquanto o ser humano não reconhecer que o ponto mais alto que poderá almejar nesta vida é a construção do caráter e o domínio próprio, os atos continuarão não confirmando a palavra.
O melhor do Brasil é o brasileiro cujo ato confirma a palavra. Enquanto uma minoria faz mau uso do poder, por inépcia, má fé ou falta de compromisso com a construção do caráter, a maioria da população esbanja exemplos de boa conduta.
Enquanto a minoria escória invade a midia emporcalhando a programação com a sua falta de ética e desinteresse pelo público, faltam espaços na programação para exibir o bem e a verdade. E estes se encontram nas ruas, nas casas, nos escritórios, no privado e também no público. A maioria é honesta.
Dia destes presenciei nas ruas alguns bons exemplos de cidadãos cuja mente é o céu, o lugar mais alto da existência, o lugar que abriga a consciência. Como é bonito enxergar o bem que ainda se pode fazer.
Enquanto um falso publicitário transformou o Congresso Nacional numa delegacia de polícia, ocupando todo o espaço da midia com a palavra abjeta, dois guardas municipais da cidade de Osasco seguiam como anjos uma anciã que aparentava estar perdida na tarde fria e chuvosa, sem agasalho, sem proteção, sem companhia. Discretos, protegeram a mulher e a reconduziram ao lar. Um ato da mais nobre grandeza que dispensa a palavra.
Enquanto falsos políticos e falsos seguidores de Cristo enchiam malas e a cueca com dinheiro — e algum falso publicitário poderia pensar num modelo de mala e de cueca carbonadas, resistentes a provas radiográficas —, um jovem de 26 anos, de nome Roberto, deixou de ganhar dinheiro no pregão para auxiliar o vizinho Manoel, de 76 anos, a resolver um problema numa repartição pública.
Se cada um de nós pudesse dedicar um ato do dia em favor do próximo, nossa vida seria melhor. Destino, acaso e coincidências não há, o que existe é a relação de causa e efeito em tudo o que praticamos. Se a midia reproduzisse o bom exemplo, a boa palavra confirmada nos atos, tanto melhor seria a vida de todos nós.
Porém, enquanto o ser humano não reconhecer que o ponto mais alto que poderá almejar nesta vida é a construção do caráter e o domínio próprio, os atos continuarão não confirmando a palavra.
23/05/2006
COLEÇÃO TOBY 2
28 páginas ilustradas, com ficha de leitura e edições em tinta, braile e CD de áudio (MP3), formato 15X21cm, ISBN 85-903675-2-5 Cód.barras: 9788590367529. À venda na Livraria Cultura
Toby e os Mistérios da Floresta
A autora apresenta o menino índio Ypê, outro companheiro de aventura do cão, que lhe possibilita realizar o sonho de voar mais rápido que os pássaros e conhecer um pouco mais da rica biodiversidade da Mata Atlântica Brasileira, um dos maiores patrimônios da humanidade, ameaçado de extinção. O livro foi lançado primeiro em braile, pelo Instituto de Cegos Padre Chico.
Livros em tinta, braile, CD (MP3)
Palestras com a autora gisele.jorn@uol.com.br
COLEÇÃO TOBY 1
Um par de asas para Toby
32 páginas ilustradas com ficha de leitura e edições em tinta, braile e CD de áudio (MP3), formato 15X21cm, ISBN 85-903675-1-7 Cód. barras: 9788590367512. À venda na Livraria Cultura.
Por meio de temas transversais, bastante apreciados pelos professores, a autora conta a história real de um cão e seus amigos pássaros numa praia da Juréia. Incentiva a posse responsável dos bichos de estimação e a adoção de animais. O protagonista é um cão vira-lata que sabe fazer amigos e é livre como os pássaros da esquadrilha da fumaça, com quem brinca todos os dias. Livros e Palestras com a autora: gisele.jorn@uol.com.br
ENTREVISTA COM PLÍNIO SAMPAIO
Por Gisele Pecchio
LIVRO ACESSÍVEL É UM DIREITO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
Está prevista para este mês a regulamentação da lei do livro contemplando, assim, na forma de lei, o direito ao livro acessível. Pouco mais de 0,01% dos livros à venda na última Bienal tinham edições em braile, um dos vários formatos acessíveis que podem ser oferecidos ao deficiente visual. Esse é um flagrante desrespeito constitucional ao livre acesso à informação.
O IBGE, no último censo, registrou 159.823 brasileiros cegos e 2.398.471 com baixa visão que são os casos de grande dificuldade permanente de enxergar; há indicadores sobre a existência de 1 milhão de cegos e 5 milhões os brasileiros com baixa visão.
Nesta entrevista, contribuímos para dar mais visibilidade ao assunto porque falta informação sobre o livro acessível na mesma proporção que faltam livros para os excluídos da sociedade.
Plínio de Arruda Sampaio é jurista, promotor público aposentado e diretor dos jornais Correio da Cidadania e Brasil de Fato. Militante político de esquerda, foi deputado federal constituinte e está na vida pública há mais de 40 anos. Sua ética e correção inabaláveis não permitiram que continuasse militando na política no partido que ajudou a fundar, o PT. É candidato ao governo do estado de São Paulo pelo PSOL. Referência obrigatória quando o assunto é justiça e cidadania, nesta entrevista ele colabora na busca do entendimento e das soluções para esta dívida social rumo a uma sociedade mais próxima do ideal democrático que não se faz sem o livre acesso à informação.
— Qual é o papel do livro na construção da cidadania?
— Quanto mais uma pessoa sabe, mais apta está para exercer a sua cidadania. O livro é o alimento mais nutritivo do saber.
— O que o senhor acha da situação excludente de milhões de brasileiros cegos e com baixa visão?
— Vivemos numa sociedade excludente. Quem não consegue seguir o seu ritmo é excluído. Pessoas com alguma dificuldade são candidatos à exclusão, como os cegos. Faz parte da lógica da competição. Por isso, precisamos mudar essa sociedade e organizá-la sob a lógica da cooperação.
Os deficientes visuais não querem mais as instituições intermediando a sua relação com os livros nem tão pouco a doação dos mesmos. Querem comprar livros acessíveis e estão buscando acordar sobre o melhor formato para universalizar o acesso aos mesmos. Até aqui as leis foram paternalistas, retiraram a autonomia do cego não lhe permitindo sequer escolher o livro do seu gosto muito menos poder comprá-lo.
— No Brasil do Bolsa Família, como o senhor encara essa atitude?
— Na lógica da cooperação, o Estado organizaria a produção de livros, de modo que todos, inclusive os cegos, tivessem condições de comprar livros. Cuba já conseguiu isso. Lá o livro é baratíssimo.
Há um movimento internacional que defende o copyleft, que se opõe ao direito autoral tão defendido pela indústria cultural. Na informática o sistema aberto Linux deu notoriedade a esta tendência quebrando a rigidez dos sistemas fechados. O mercado reage porque não acredita na viabilidade econômica desta abertura. No Brasil, a indústria do livro não quer nem ouvir falar em livro digital ou em qualquer outro formato aberto alegando problemas com o direito autoral. As editoras alegam que a venda de um livro em formato digital a um deficiente visual poderá desencadear a pirataria. De acordo com a lei todos são inocentes até que se prove o contrário. Mas no caso das pessoas com deficiência visual as leis são interpretadas ao contrário...
— Qual é a sua opinião sobre essa queda de braço?
— Proteção à propriedade intelectual é uma balela do capitalismo.
— O senhor é um intelectual com vasta experiência internacional; a luz dos melhores exemplos apresentados em outros países, qual é o modelo mais democrático e inclusivo que já conheceu e que melhor se aproxima do ideal de informação como um direito de todos?— Apesar de todas as dificuldades decorrentes do bloqueio norte-americano, Cuba é o país em que as pessoas pobres conseguiram o melhor padrão de vida. [comparado com os povos latino-americanos]
Escritores e profissionais da Educação discursam constantemente sobre a necessidade de estimular nossas crianças para o hábito da leitura. Porém, a literatura para crianças cegas é quase inexistente. Se as crianças cegas são igualmente cidadãs, então elas têm o mesmo direito à leitura e à fartura de títulos que as demais crianças.
— Qual é a contribuição que o senhor daria para um contexto social mais justo e igualitário nesta questão do acesso ao livro?
— Não sabia que não há muitos livros para crianças cegas. Que absurdo! Não tenho competência para suprir essa falha, mas vou escrever sobre isso, na esperança de sensibilizar os escritores de livros infantis para que eles entrem nesse campo.
Tão ruim como entrar numa livraria e não encontrar o livro acessível para comprar é encontrar o livro e não ter dinheiro para comprar. O governo reduziu o imposto para baixar o preço mas o consumidor ainda não se beneficiou da medida. O brasileiro continua pagando mais caro pelos livros do que o norte-americano. Além disso, faltam bibliotecas e livros onde mora a maioria pobre excluída do consumo.
— Quando, afinal, poderemos nos fartar num banquete de livros?
— No dia em que o Brasil se tornar socialista.
Haverá um banquete onde serão servidos livros na entrada, no prato principal e na sobremesa. Cada convidado terá que levar três livros para três convidados. Ao convidado Plínio Sampaio é pedido entregar um livro ao presidente Lula, para um menino de sete anos que é cego [em formato acessível, é claro] e para uma terceira pessoa que o convidado levará consigo ao banquete.
— Quem o senhor levará consigo e quais livros entregará para cada um?— Para o Lula, a biografia do Mandela [Nelson Mandela, líder nacionalista e estadista sul-africano]; para o menino, o Sítio do Pica-Pau Amarelo; eu levaria comigo a Heloísa Helena e daria para ela o livro “Pentimento”, de Lilian Helmann.
— Cite alguns livros e autores que foram importantes na sua formação.— Caio Prado Jr., Guimarães Rosa, Padre Lebret, Padre Juan Luiz Segundo.
— Qual livro ou autor marcou a sua infância? Por quê?— Os livros de Monteiro Lobato. Eram ótimos.
— Como é reconstruir um ideal de cidadania, semeado durante toda uma vida, após a decepção com o governo Lula?— Não perdendo a fé no socialismo e no povo brasileiro.
— Está escrevendo um livro a esse respeito?— Não estou escrevendo livro no momento porque estou metido até o pescoço na candidatura a governador de São Paulo.
Participaram desta entrevista o professor universitário Saulo César da Silva, coordenador do grupo Além da Visão (Yahoo), que objetiva a reflexão, a partir de discussões na web, a respeito das questões inclusivas na América Latina, Caribe e Portugal; Gisele Pecchio Dias, jornalista, autora da Coleção Toby, coordena a comunidade Amamos Livros Inclusivos (Orkut), para colaborar na difusão do tema livro acessível entre os internautas; Naziberto Lopes de Oliveira, acadêmico de Psicologia na Universidade São Marcos e membro do Conseg (São Paulo-SP), do Livro Acessível (Yahoo) e Quero-Ler (Google) e Rosângela Gera, médica de Colatina (ES) e mãe de aluna da pré-escola que igualmente ao universitário Naziberto enfrenta a exclusão no mercado do livro.
LIVRO ACESSÍVEL É UM DIREITO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
Está prevista para este mês a regulamentação da lei do livro contemplando, assim, na forma de lei, o direito ao livro acessível. Pouco mais de 0,01% dos livros à venda na última Bienal tinham edições em braile, um dos vários formatos acessíveis que podem ser oferecidos ao deficiente visual. Esse é um flagrante desrespeito constitucional ao livre acesso à informação.
O IBGE, no último censo, registrou 159.823 brasileiros cegos e 2.398.471 com baixa visão que são os casos de grande dificuldade permanente de enxergar; há indicadores sobre a existência de 1 milhão de cegos e 5 milhões os brasileiros com baixa visão.
Nesta entrevista, contribuímos para dar mais visibilidade ao assunto porque falta informação sobre o livro acessível na mesma proporção que faltam livros para os excluídos da sociedade.
Plínio de Arruda Sampaio é jurista, promotor público aposentado e diretor dos jornais Correio da Cidadania e Brasil de Fato. Militante político de esquerda, foi deputado federal constituinte e está na vida pública há mais de 40 anos. Sua ética e correção inabaláveis não permitiram que continuasse militando na política no partido que ajudou a fundar, o PT. É candidato ao governo do estado de São Paulo pelo PSOL. Referência obrigatória quando o assunto é justiça e cidadania, nesta entrevista ele colabora na busca do entendimento e das soluções para esta dívida social rumo a uma sociedade mais próxima do ideal democrático que não se faz sem o livre acesso à informação.
— Qual é o papel do livro na construção da cidadania?
— Quanto mais uma pessoa sabe, mais apta está para exercer a sua cidadania. O livro é o alimento mais nutritivo do saber.
— O que o senhor acha da situação excludente de milhões de brasileiros cegos e com baixa visão?
— Vivemos numa sociedade excludente. Quem não consegue seguir o seu ritmo é excluído. Pessoas com alguma dificuldade são candidatos à exclusão, como os cegos. Faz parte da lógica da competição. Por isso, precisamos mudar essa sociedade e organizá-la sob a lógica da cooperação.
Os deficientes visuais não querem mais as instituições intermediando a sua relação com os livros nem tão pouco a doação dos mesmos. Querem comprar livros acessíveis e estão buscando acordar sobre o melhor formato para universalizar o acesso aos mesmos. Até aqui as leis foram paternalistas, retiraram a autonomia do cego não lhe permitindo sequer escolher o livro do seu gosto muito menos poder comprá-lo.
— No Brasil do Bolsa Família, como o senhor encara essa atitude?
— Na lógica da cooperação, o Estado organizaria a produção de livros, de modo que todos, inclusive os cegos, tivessem condições de comprar livros. Cuba já conseguiu isso. Lá o livro é baratíssimo.
Há um movimento internacional que defende o copyleft, que se opõe ao direito autoral tão defendido pela indústria cultural. Na informática o sistema aberto Linux deu notoriedade a esta tendência quebrando a rigidez dos sistemas fechados. O mercado reage porque não acredita na viabilidade econômica desta abertura. No Brasil, a indústria do livro não quer nem ouvir falar em livro digital ou em qualquer outro formato aberto alegando problemas com o direito autoral. As editoras alegam que a venda de um livro em formato digital a um deficiente visual poderá desencadear a pirataria. De acordo com a lei todos são inocentes até que se prove o contrário. Mas no caso das pessoas com deficiência visual as leis são interpretadas ao contrário...
— Qual é a sua opinião sobre essa queda de braço?
— Proteção à propriedade intelectual é uma balela do capitalismo.
— O senhor é um intelectual com vasta experiência internacional; a luz dos melhores exemplos apresentados em outros países, qual é o modelo mais democrático e inclusivo que já conheceu e que melhor se aproxima do ideal de informação como um direito de todos?— Apesar de todas as dificuldades decorrentes do bloqueio norte-americano, Cuba é o país em que as pessoas pobres conseguiram o melhor padrão de vida. [comparado com os povos latino-americanos]
Escritores e profissionais da Educação discursam constantemente sobre a necessidade de estimular nossas crianças para o hábito da leitura. Porém, a literatura para crianças cegas é quase inexistente. Se as crianças cegas são igualmente cidadãs, então elas têm o mesmo direito à leitura e à fartura de títulos que as demais crianças.
— Qual é a contribuição que o senhor daria para um contexto social mais justo e igualitário nesta questão do acesso ao livro?
— Não sabia que não há muitos livros para crianças cegas. Que absurdo! Não tenho competência para suprir essa falha, mas vou escrever sobre isso, na esperança de sensibilizar os escritores de livros infantis para que eles entrem nesse campo.
Tão ruim como entrar numa livraria e não encontrar o livro acessível para comprar é encontrar o livro e não ter dinheiro para comprar. O governo reduziu o imposto para baixar o preço mas o consumidor ainda não se beneficiou da medida. O brasileiro continua pagando mais caro pelos livros do que o norte-americano. Além disso, faltam bibliotecas e livros onde mora a maioria pobre excluída do consumo.
— Quando, afinal, poderemos nos fartar num banquete de livros?
— No dia em que o Brasil se tornar socialista.
Haverá um banquete onde serão servidos livros na entrada, no prato principal e na sobremesa. Cada convidado terá que levar três livros para três convidados. Ao convidado Plínio Sampaio é pedido entregar um livro ao presidente Lula, para um menino de sete anos que é cego [em formato acessível, é claro] e para uma terceira pessoa que o convidado levará consigo ao banquete.
— Quem o senhor levará consigo e quais livros entregará para cada um?— Para o Lula, a biografia do Mandela [Nelson Mandela, líder nacionalista e estadista sul-africano]; para o menino, o Sítio do Pica-Pau Amarelo; eu levaria comigo a Heloísa Helena e daria para ela o livro “Pentimento”, de Lilian Helmann.
— Cite alguns livros e autores que foram importantes na sua formação.— Caio Prado Jr., Guimarães Rosa, Padre Lebret, Padre Juan Luiz Segundo.
— Qual livro ou autor marcou a sua infância? Por quê?— Os livros de Monteiro Lobato. Eram ótimos.
— Como é reconstruir um ideal de cidadania, semeado durante toda uma vida, após a decepção com o governo Lula?— Não perdendo a fé no socialismo e no povo brasileiro.
— Está escrevendo um livro a esse respeito?— Não estou escrevendo livro no momento porque estou metido até o pescoço na candidatura a governador de São Paulo.
Participaram desta entrevista o professor universitário Saulo César da Silva, coordenador do grupo Além da Visão (Yahoo), que objetiva a reflexão, a partir de discussões na web, a respeito das questões inclusivas na América Latina, Caribe e Portugal; Gisele Pecchio Dias, jornalista, autora da Coleção Toby, coordena a comunidade Amamos Livros Inclusivos (Orkut), para colaborar na difusão do tema livro acessível entre os internautas; Naziberto Lopes de Oliveira, acadêmico de Psicologia na Universidade São Marcos e membro do Conseg (São Paulo-SP), do Livro Acessível (Yahoo) e Quero-Ler (Google) e Rosângela Gera, médica de Colatina (ES) e mãe de aluna da pré-escola que igualmente ao universitário Naziberto enfrenta a exclusão no mercado do livro.
Deficientes visuais também querem livros. Por Gisele Pecchio na Bienal do Livro
DEFICIENTES VISUAIS QUEREM LIVROS ACESSÍVEIS
Ministério da Educação e indústria do livro já sabem que pobres querem livros. Falta saberem que pessoas com deficiência visual querem livros acessíveis. Mas se depender do domínio técnico e do interesse pelo assunto por parte de autores e editores de livros e de burocratas e empresários do livro que participaram do primeiro painel do Salão de Idéias da 19º Bienal do Livro, dia 15, esse problema parece que irá se arrastar por mais alguns anos.
Na literatura infantil os fóruns das últimas bienais não inovaram nos temas nem nos autores destacados para debater com o público. São sempre os mesmos, como o bom e veterano Ziraldo, o destaque do primeiro painel do dia 15. O público, umas 350 pessoas, a maioria professoras da rede pública, o aplaudiram e soltaram gritinhos até mesmo quando ele criticou o despreparo de parte delas e comparou o cenário montado para o debate com um “bordel francês onde as prostitutas ficam sentadas em poltronas parecidas com essas”. Ele conclamou os técnicos do Ministério da Educação a reverem as suas teorias e práticas educacionais. Disse que a criança precisa dominar a leitura e a escrita para poder refletir sobre o que aprende. Falou que estava ali “para confundir e não para explicar”. Para ele, “a escola precisa ensinar e a criança precisa aprender, sem precisar ser premiada pelo seu desempenho”.
Na infância do menino maluquinho as crianças liam Machado de Assis e aprendiam. Hoje há livros apropriados para cada etapa do aprendizado da leitura e mesmo assim as crianças não aprendem, lembrou Ziraldo. O autor disse que “é preciso abandonar palavras difíceis como “letramento” e “parâmetro” porque muitas das professoras de hoje nem sabem o que é isso. Nesse ponto Ziraldo se contradiz porque oferecer facilidades não é ensinar a pensar, muito pelo contrário, talvez seja por isso que a sua geração aprendia mais, mesmo tendo que ler na mais tenra idade autores tão complexos como Machado de Assis.
Talvez seja por isso que no país do futebol alguns locutores esportivos usem a palavra “handicap” no sentido oposto ao que realmente significa essa expressão técnica de origem inglesa muito usada no futebol. Isso só para dar um exemplo de que simplificar ou pular a dificuldade não resolve.
Talvez seja melhor mesmo Ziraldo criar textos e desenhos e ser um pouco mais cuidadoso na hora de criticar assuntos que demandam conhecimento que ele não tem, especialmente quando se tem ao lado uma educadora como Regina Zilberman. Foi pretensioso o autor ao afirmar que viajou muito mais do que qualquer um daqueles técnicos ali presentes então estava mais habilitado para falar sobre as reais necessidades da população leitora. Se viajar muito capacitasse alguém alguns políticos não falavam tanta bobagem.
Nenhum dos participantes pareceu dominar o conceito “livro acessível” ou se fez de desentendido quando perguntei aos “da poltrona” [não havia mesa, os debatedores sentaram em poltronas] qual seria a contribuição daquele Salão de Idéias na formação de leitores com deficiência visual? Quando uma criança com deficiência visual poderia, afinal, entrar numa livraria e comprar o livro da sua escolha em formato acessível? Ninguém respondeu minhas perguntas de forma convincente e pareceu-me que na visão deles livro acessível é tão somente o livro em braile distribuído pelo MEC.
Por esse motivo, reafirmo que o II Seminário Nacional do Livro Acessível deveria acontecer paralelo à 20ª Bienal do Livro com um fórum específico dentro do Salão de Idéias. É preciso articular isso desde já. Ziraldo poderia participar exercendo toda a sua influência para persuadir editores a abraçarem essa causa. Serão “pitacos” muito bem-vindos e bem mais apropriados para um jornalista e escritor tão querido e tão compromissado com a democratização da informação por meio do livro.
Ministério da Educação e indústria do livro já sabem que pobres querem livros. Falta saberem que pessoas com deficiência visual querem livros acessíveis. Mas se depender do domínio técnico e do interesse pelo assunto por parte de autores e editores de livros e de burocratas e empresários do livro que participaram do primeiro painel do Salão de Idéias da 19º Bienal do Livro, dia 15, esse problema parece que irá se arrastar por mais alguns anos.
Na literatura infantil os fóruns das últimas bienais não inovaram nos temas nem nos autores destacados para debater com o público. São sempre os mesmos, como o bom e veterano Ziraldo, o destaque do primeiro painel do dia 15. O público, umas 350 pessoas, a maioria professoras da rede pública, o aplaudiram e soltaram gritinhos até mesmo quando ele criticou o despreparo de parte delas e comparou o cenário montado para o debate com um “bordel francês onde as prostitutas ficam sentadas em poltronas parecidas com essas”. Ele conclamou os técnicos do Ministério da Educação a reverem as suas teorias e práticas educacionais. Disse que a criança precisa dominar a leitura e a escrita para poder refletir sobre o que aprende. Falou que estava ali “para confundir e não para explicar”. Para ele, “a escola precisa ensinar e a criança precisa aprender, sem precisar ser premiada pelo seu desempenho”.
Na infância do menino maluquinho as crianças liam Machado de Assis e aprendiam. Hoje há livros apropriados para cada etapa do aprendizado da leitura e mesmo assim as crianças não aprendem, lembrou Ziraldo. O autor disse que “é preciso abandonar palavras difíceis como “letramento” e “parâmetro” porque muitas das professoras de hoje nem sabem o que é isso. Nesse ponto Ziraldo se contradiz porque oferecer facilidades não é ensinar a pensar, muito pelo contrário, talvez seja por isso que a sua geração aprendia mais, mesmo tendo que ler na mais tenra idade autores tão complexos como Machado de Assis.
Talvez seja por isso que no país do futebol alguns locutores esportivos usem a palavra “handicap” no sentido oposto ao que realmente significa essa expressão técnica de origem inglesa muito usada no futebol. Isso só para dar um exemplo de que simplificar ou pular a dificuldade não resolve.
Talvez seja melhor mesmo Ziraldo criar textos e desenhos e ser um pouco mais cuidadoso na hora de criticar assuntos que demandam conhecimento que ele não tem, especialmente quando se tem ao lado uma educadora como Regina Zilberman. Foi pretensioso o autor ao afirmar que viajou muito mais do que qualquer um daqueles técnicos ali presentes então estava mais habilitado para falar sobre as reais necessidades da população leitora. Se viajar muito capacitasse alguém alguns políticos não falavam tanta bobagem.
Nenhum dos participantes pareceu dominar o conceito “livro acessível” ou se fez de desentendido quando perguntei aos “da poltrona” [não havia mesa, os debatedores sentaram em poltronas] qual seria a contribuição daquele Salão de Idéias na formação de leitores com deficiência visual? Quando uma criança com deficiência visual poderia, afinal, entrar numa livraria e comprar o livro da sua escolha em formato acessível? Ninguém respondeu minhas perguntas de forma convincente e pareceu-me que na visão deles livro acessível é tão somente o livro em braile distribuído pelo MEC.
Por esse motivo, reafirmo que o II Seminário Nacional do Livro Acessível deveria acontecer paralelo à 20ª Bienal do Livro com um fórum específico dentro do Salão de Idéias. É preciso articular isso desde já. Ziraldo poderia participar exercendo toda a sua influência para persuadir editores a abraçarem essa causa. Serão “pitacos” muito bem-vindos e bem mais apropriados para um jornalista e escritor tão querido e tão compromissado com a democratização da informação por meio do livro.
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