Fonte: Observatório da Imprensa Tema: FALTAM LIVROS EM BRAILE abril/04
Uma de nossas misérias
O assunto acesso à leitura continua uma das misérias que assolam este imenso e não ainda tão grandioso país. Diz um aprendiz de Jorge Luis Borges (aliás, que adquiriu cegueira), um estudioso da leitura chamado Alberto Manguel, que "uma sociedade pode existir –existem muitas, de fato – sem escrever, mas nenhuma pode existir sem ler". Acrescentaria que é pela prática da leitura que se oportuniza ao homem a criação, a construção e a reconstrução do conhecimento chegando a sua aplicabilidade ao meio social que habita.
E o ser cego ou possuidor de visão subnormal não é ser mentalmente capaz que contribui para a sociedade? Aqui, sociedade brasileira? Por que tanta restrição? E a criança, um ser em formação, a ela está sendo negada a possibilidade de conhecer e ver o mundo pelo livro e pela leitura? Lembre que cego vê, e talvez veja e sinta melhor de que as pessoas "videntes".
Políticas públicas voltadas à educação, à leitura, à acessibiliade – sim, pasmem, conheço bibliotecas com acervos em braile que ficam no terceiro andar de um prédio que não possui elevador... – ainda derrapam na mão de gestores. Associadas à timidez de um povo que pouco exerce a cidadania, fazem com que um grupo de cidadãos permança no escuro. Aliás, é a restrição de leitura que causa cegueira no ser humano, independentemente de ser ter visão ou não!
Não diferentemente, as organizações privadas do mercado livreiro não efetivam a sua contribuição. Alguém está pedindo algo gratuitamente? Não! Estamos apontando que todos têm direito à informação, a fatia do mercado está para ser explorada. Paradoxalmente, nem por "dinheiro" se produzem livros em braile! Há tipos e tipos de cegueira!
Quem leu "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago? Parece que esta epidemia tratada pelo autor português assola o povo brasileiro, principalmente aqueles que estão posicionados para que haja "equidade para todos." Finalizando, são artigos aqui e acolá, como este de Gisele, que espero se tornem cupim, sim, aquele bichinho que muitos consideram insignificante e que, em grupo, derruba prédios!
Que sejamos cupins destruindo a inércia que ainda impede um cego, um ser humano de ler e crescer! Parabéns à Gisele.
Salete Cecilia de Souza, bibliotecária da Unisul e membro do Grupo Cegos.Com
Pura realidade
Que artigo estupendo, magnífico! São a pura realidade os fatos retratados no artigo. Há falta de incentivo à produção de livros em braile e muita burocracia para atender aos pedidos de transcrição de livros feitos pelos deficientes visuais. Eu mesmo já enfrentei dificuldades. Ao recorrer a uma instituição, pediram-me três meses de espera somente para orçar a transcrição de um livro. Abraços de luta a todos.
Ricardo de Azevedo Soares, analista da Justiça Federal do Estado do Rio de Janeiro
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Agradeço pela sua presença. Abraço meu, Gisele