DOMINGO
SEM CHORO,
MAS UM MENINO CAUSOU EMOÇÃO
Osasco,
SP, 26 de abril. Fui fazer as compras do mês com minha mãe. Na
volta para casa ela seguiu com taxista e eu sozinha. Domingo não tem trânsito e
posso tocar a cadeira de rodas na rua, já que calçadas acessíveis não há. Também
não posso andar em veículo convencional, só em carros adaptados, por causa das
lesões na coluna e na pele.Pela primeira vez não chorei. Sempre ficava em prantos sozinha, com muito esforço, dor e cansaço rodando pelo Calçadão e pela rua de casa onde andei com minhas pernas durante 50 anos.
Não chorei, mas me emocionei por causa de um garotinho de uns 5 anos que se desgarrou da mãe e veio correndo ao meu encontro.
− Oi! – disse ele.
− Oi! – respondi.
− Quê azuda? Eu levo o cê – disse o menino.
− Não precisa, meu anjo, muito grata – respondi.
Neste instante a mãe puxou o menino pelo braço e os dois foram embora.
Ouvi o garotinho murmurar: “azuda, azuda ela”.
Respirei fundo para não cair em prantos.
Sinto muita falta das minhas interações com as crianças por meio da leitura e do bate-papo sobre as aventuras do cão Toby. Era um exercício maravilhoso da arte de aprender a ler, fazer perguntas e dar respostas de conteúdo seguro aos pequenos.
Todos os dias reflito sobre a finitude, exercício mental necessário em cada etapa da vida.
Descrição da imagem: rostos juntinhos de Gisele com alunos do Colégio Desafio, após palestra e autógrafos. |