Querer bem é dom para compartilhar
Consegui saber a direção de
duas queridas Irmãs, que no final de 2003 abriram as portas do Instituto de
Cegos Padre Chico (IPC) para que eu, no início letivo de 2004, levasse a 1ª
edição de Um Par de Asas para Toby,
em Braille, aos alunos e professores do IPC. Foi um encontro maravilhoso que
fortaleceu meu ideal de escrever histórias que todas as crianças possam ler. O
Braille é o método capaz de alfabetizar e conduzir o cego pelo caminho seguro
do conhecimento.
Sem saber, por intuição e
guiada por vontade imensa de colaborar, estava eu lançando o primeiro livro de
coleção acessível para crianças de todas as idades, em tinta, Braille,
audiolivro e, mais tarde, na Laramara, em tinta ampliada e Braille. Um trabalho
independente, visando servir ao próximo no solo fértil da educação. Pagar os
custos de cada livro lançado, em mídias diferentes, já era lucro bastante para
eu ganhar fôlego e sair por aí com mochila nas costas semeando a alegria de
distribuir conteúdo seguro, sempre em favor das boas práticas na relação do ser
humano com o meio.
No final de 2009, quando se
comemorou o bicentenário de Louis Braille, a Secretaria de Educação do Estado
de São Paulo, por indicação da pedagoga Vera Zednick, do Projeto Acesso, me
convidou para uma palestra referente aos meus livros, únicos paradidáticos de
edição independente em formatos acessíveis. Inseri conteúdo em texto, imagem e
áudio do meu encontro com as crianças e professoras do IPC. Quando olhei para a
última fileira do auditório lá estavam as queridas Irmãs Madalena e Apoline.
Meus olhos marejaram e tive alegria por oferecer uma rosa branca para cada uma
delas, de um ramalhete ganhado por mim.
A última vez que andei nesta
vida foi para visitar as Irmãs, em janeiro de 2010, lá no IPC. Depois sofri um
terrível acidente, fiquei muito tempo hospitalizada e somente neste mês, dois
dias antes da Páscoa, tive notícias delas. Estão juntinhas e ficaram muito
felizes com a mensagem enviada por mim. Diz Irmã Madalena, na resposta, que foi
um presente de Páscoa saber notícias minhas e da mamãe. Após mais de sete
décadas uma e mais de seis décadas a outra dedicadas totalmente ao ensino do
deficiente visual, hoje residem numa Congregação que cuida de pessoas idosas.
Quem disse que nove décadas
de vida é motivo para deixar de servir ao próximo? Lá elas ajudam a cuidar dos
pacientes mais comprometidos, a fim de que possam viver tranquilos, em paz. Diz
a Irmã que “desta forma intensificam suas vidas de oração, com mais tempo para
agradecer a Deus e pedir a Ele pelos amigos”. De forma alegre a Irmã se despede
aguardando pelo próximo encontro conosco porque ambas nos querem muito bem.
Fiquei tão feliz por ter notícias
das Irmãs que resolvi postar esse texto
no blog. O querer bem é dom valioso e merece semeadura.
Imagens: Meu primeiro dia de aula com alunos do IPC. Menino lê Um par de Asas em Braille e, abaixo, professores e alunos de braços erguidos se despedem de mim.
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Agradeço pela sua presença. Abraço meu, Gisele