É muito importante a família nos momentos felizes e na turbulência dos dias que sucedem acidentes trágicos como o que quase roubou a minha vida e das pessoas amadas. Os conflitos familiares brotam à flor da pele.
Pessoas como eu demandam cuidados e compreensão em tempo integral. Esse tempo as famílias de hoje não têm. Todos lutam pela vida trabalhando muito e recebendo menos do que merecem e precisam ganhar para os gastos do dia-a-dia.
Imaginem quando alguém da família sobrevive a um politrauma com lesão na medula espinhal e sequelas horríveis decorrentes de infecções hospitalares que evoluíram para a osteonecrose da cabeça do fêmur, osteomielite e dolorosas e enormes úlceras de pressão no glúteo e região sacral.
O serviço de atendimento domiciliar do convênio próprio do hospital não tem cuidado das úlceras, nem da fisioterapia motora e nem tão pouco ajudado nos enormes gastos com materiais de curativo e pessoal de enfermagem para auxiliar-me no banho e curativos diários.
Se eu não quiser ficar abandonada e suja no leito preciso utilizar o que Deus me deu a graça de preservar: o cérebro e os braços.
Para minha família tem sido difíceis os dias. Na maioria deles fico apenas com mamãe para auxiliar-me. Mas nos finais de semana a casa fica alegre com a presença do irmão Lourenço e das sobrinhas amadas.
Neste 23 de outubro Lourenço aniversariou.
Pela primeira vez pude saborear um pedaço de bolo de chocolate e um copo de refrigerante sem enjoar, ao contrário dos longos dias e noites em que fiquei restrita ao leito numa cama torta que durante oito meses pendeu meu corpo à direita, acompanhando a minha também torta coluna espinhal. Até hoje não sei porque estou torta. O resgate do Samu foi perfeito e meu primeiro exame de imagem mostrava uma coluna reta, embora fraturada em dois pontos.
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Agradeço pela sua presença. Abraço meu, Gisele