10/07/2008

ÁRVORES ABATIDAS EM OSASCO



















Após sessões de mutilamento e agressões que já vinham sofrendo há algum tempo, sem chance de defesa ou fuga porque o Criador deu a elas a missão de proteger a terra-mãe e abrigar os pássaros até o final de seus dias, foram assassinadas mais duas bonitas árvores de grande porte na cidade de Osasco.

As seringueiras estavam plantadas no terreno que fica na esquina da rua Dante Battiston com a rua Pedro Fioretti. Se os gestores públicos cultuassem a memória da cidade, como ela de fato merece, ali deveria ser local público de preservação permanente do patrimônio histórico, cultural e turístico da cidade. Da mesma forma, a casa onde viveu e morreu Helena Pignatari (irmã do poeta Décio Pignatari), a primeira professora da cidade de Osasco. A casa ficava a poucos metros do local onde foram abatidas as seringueiras.
No quintal havia um bonito pomar com várias espécies de árvores frutíferas que tombaram num domingo, Dia das Mães, feriado nacional (menos para os prestativos funcionários da Defesa Civil que trabalharam o dia todo no corte das árvores).
A casa teria sido vendida a um empresário chinês, o qual está edificando um prédio no terreno, com total impermeabilidade do solo. Se não estou enganada, a legislação municipal de uso do solo ainda não obriga a reserva de percentual de área permeável onde um jardim seria muito bem-vindo, em especial pelos pássaros desabrigados, que talvez voltassem a cantar para tornar nossos dias mais abençoados. Para compensar o dano causado ao meio ambiente com a retirada das árvores plantadas pela professora Helena, a branda lei 3995, que disciplina o corte, a poda e o replantio de árvores na cidade de Osasco, pede o mínimo de 5 e o máximo de 20 mudas a cada árvore abatida, de acordo com o diâmetro da mesma.
Enquanto eu reunia os dados para escrever esse artigo, uma colega lembrou-me de questionar o fato de além de insuficientes para repor o dano, porque não é obrigado plantar as mudas no local onde árvores são abatidas, não há garantia de que as frágeis mudinhas sobreviverão.
Do quintal da professora Helena, fui autorizada, pelo mestre de obras que lá trabalhava, a retirar um balde de terra oferecida por mim às rosas que cultivo no pequeno canteiro que mantenho no quintal de casa. Terra boa e adubada que antes nutria nobre e perfumado pinheiro-anfitrião plantado à frente da casa dos Pignatari. Meu canteiro ficou perfumado pelo aroma do pinheiro abatido durante vários dias. Depois, jamais deixaram de florir as rosas Príncipe-Negro que plantei. Foi a forma encontrada para tentar preservar um pouquinho da natureza que havia ali e as memórias que trago dos meus antigos vizinhos e amigos de infância, em especial Ciça e Guto, dois dos quatro filhos da professora Helena.
Já, das pobres seringueiras tombadas em combate final travado neste fatídico 9 de Julho, feriado da Revolução Constitucionalista, guardarei na memória os olhos de Paulinho, o garoto de pés descalços com uma caixinha de balas de goma nas mãos. Daquela caixinha dependia os trocados que levaria para casa no final da jornada. Ele nem sabia a importância daquele feriado e muito menos que no dia seguinte o Estatuto da Criança e do Adolescente completaria mais um ano de vida. Também não fazia a menor idéia de que o trabalho infantil agora é crime. “Crime é eles num deixá nem uma árvore pra os passarinho”, lamentou Paulinho.
Parado ali, na esquina, o menino vendedor de balas de goma assistia os golpes finais da motoserra. Acreditava que as gigantes vencidas haviam sido abatidas pelos “homi pra fazer lenha”.
Ali, naquela mesma esquina onde hoje funciona um estacionamento particular que sepultou o verde, passaram as tardes e noites de sábado boa parte dos jovens das décadas de 70 e 80, ouvindo música e petiscando sob o abrigo fresco e cheiroso das árvores que lá haviam. Eram muitas e bonitas as árvores que emolduravam todo o espaço da Lanchonete Young People, a primeira do centro da cidade.
O maestro Tom Jobim, um dos notáveis do movimento Bossa Nova, que eclodia há 50 anos marcando um tempo de rara delicadeza na música e no viver de toda uma geração, dizia acreditar que “toda vez que uma árvore ou um pássaro são abatidos eles nascem em outro planeta e é nesse planeta que eu quero estar, quando morrer”. Eu, também. gisele.jorn@uol.com.br

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